Concepção de lar muda com a pandemia

Clipping – 10/02/21

O psicólogo e tutor da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS), Leopoldo Barbosa, conversou com o repórter Rafael Dantas para a edição 179.1 da Algomais sobre como a pandemia influenciou a nossa concepção de lar ao nos deixar mais tempo em casa. Essa transformação teve impactos no comportamento e no consumo dos brasileiros, que ficaram mais domésticos em 2020. A FPS é cliente Multi de Assessoria de Imprensa.

Mais do que um conjunto de paredes, cômodos e tetos, a moradia é uma âncora de segurança, conforto e aconchego. O significado afetivo do que o homem chama de casa ganhou outra dimensão em tempos de pandemia provocada pelo novo coronavírus? Como esse período de maior necessidade de permanecer no lar influenciou essa percepção?

O lar sempre foi reconhecido como um lugar de segurança, uma direção que nos orientava para onde voltar. Com a pandemia, além da recomendação e da ideia que reforçou isso fisicamente com as medidas de isolamento e distanciamento, simbolicamente essa realidade ganhou outras proporções. A convivência com as pessoas passou a ser mais intensa e muitas reflexões nos proporcionaram a abertura de novos horizontes. O lugar de segurança afetiva, passou a ser também o lugar de segurança e manutenção da vida profissional. O trabalho home office, antes uma realidade para uma parcela da população, passou a ser reconhecido como necessidade e hoje faz parte das estratégias de adaptação de muitas empresas. Afetivamente passamos a perceber mais as necessidades do outro e as nossas.

Temos visto um maior investimento das pessoas no ambiente interno da casa para trazer mais conforto, garantir maior lazer doméstico ou mesmo para estruturar melhor algum espaço para o ambiente de trabalho. Esse maior cuidado com o lar é um reflexo de uma tentativa de maior cuidado das pessoas consigo mesmas nesse período tão estressante ainda de enfrentamento da pandemia?

O ambiente tanto pode ser o reflexo de como nos sentimos internamente, quanto também pode exercer poder positivo na nossa organização emocional. Profissionalmente, dividir espaço com as pessoas dentro da mesma casa/apartamento, abriu espaço para respeitar horários e demandas diferentes que surgiram diante desta nova realidade. Para famílias com filhos, por exemplo, os horários do trabalho e das escolas, por vezes eram sobrepostos, o que trouxe a necessidade de dividir cômodos (quartos, salas) e equipamentos (computadores, tablets ou mesmo smartphones). A tendência era que passássemos a maior parte do nosso dia no trabalho, e, se naturalmente já não era uma tarefa simples dividir trabalho de vida pessoal, com o home office as coisas se complicaram um pouco mais. Assim, além dos aspectos profissionais, e reconhecendo que o equilíbrio emocional considera o ambiente, a casa precisou ser “vista” novamente como um espaço que pudesse suportar a intensidade emocional vivida por todos e a percepção de aconchego e descanso fez com que muitas pessoas passassem a reorganizar esses espaços.

Uma prática que tem sido adotada de forma quase que terapêutica por muitas pessoas é o cultivo de plantas. Aumentou muito a venda de itens e mudas para jardins internos. Essa é uma prática relevante para trazer uma maior saúde mental ou emocional? Que outras práticas no ambiente doméstico seriam recomendadas?

Cada família precisou perceber as suas necessidades e adequar os interesses comuns. Novos hábitos foram desenvolvidos e os cuidados com o ambiente interno se transformaram em realidade. De ajustes na disposição dos móveis, organização de livros, distribuição de itens sem uso, aquisição de animais, cuidados de plantas e sim, as reformas… que tenderam a interferir nas reuniões online, nas aulas e chamadas de video. Mas é isso, de tempos em tempos, naturalmente precisamos de uma revisão interna, com as nossas casas não poderia ser diferente, elas nos refletem. O aprendizado ainda está acontecendo mas já constatamos mudanças positivas, cada uma no seu tempo e de acordo com as suas reais necessidades.

Fonte: Entrevista Algomais

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